Um dos melhores episódios de Rick & Morty coloca o telespectador diante de um buffet de ideologias. Ele pode escolher a convicção que quiser e a narrativa central do episódio vai se encarregar de sempre tornar amargo o gosto do prato. Em “Contos da Cidadela”, vemos uma sociedade formada por réplicas do homem mais inteligente do universo. Apesar de sua formação incomum e promissora, essa sociedade é burra o suficiente para espalhar infelicidade a todos os seus membros. Fica sugerido aqui que isso é o que todas as sociedades fazem. Há pelo menos um recurso que toda sociedade sabe distribuir de maneira mais ou menos igualitária: a infelicidade. Essa é a sugestão pessimista desse episódio abertamente distópico. O que “Contos da Cidadela” faz é especialmente triste porque constrói uma distopia a partir da existência utópica de um mundo habitado por Ricks, seres altamente capazes e criativos.
METEORO RECOMENDA
Três Canções para Lenin
Contos da Cidadela transforma utopia em distopia. O documentário Três Canções para Lenin, de 1934, faz o inverso. Aqui, o que muitos considerariam uma distopia ditatorial é tratado como se fosse utopia. O filme é a homenagem apaixonada (e aparentemente muito sincera) do documentarista Dziga Vertov a um “herói de seu povo”. Há exagero na estética e na narrativa e, por trás desse exagero, há uma ou outra conclusão palpável sobre a realidade soviética daqueles dias.