Fullmetal Alchemist Brotherhood e o zen

Fullmetal Alchemist Brotherhood e o zen

Ichi wa zen, zen wa Ichi é um episódio especial dentro da série. O nome é uma expressão razoavelmente conhecida no Japão: um é o todo, todo é um. E, durante o episódio, há outros zens além do que aparece no título. Essa combinação entre vários zens é o estímulo para uma breve análise etimológica do termo. Ententendendo a palavra e seus signficados, entendemos o conceito por trás da filosofia representada por ela. Assim, nos aproximamos de um interpretação menos mística e palpável. Há alguns autores por aí que se dedicam ao trabalho de transformar todos os aspectos ligados à espiritualidade em temas tangíveis, passíveis de discussão. Isso é positivo porque, se não for passível de discussão, uma investigação espiritualizada da realidade dependerá sempre da confiança submissa em um mestre. Um sujeito lembrado pro fazer isso é…

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Iluminação Espiritual, um acontecimento incrível

Ninguém conhece o rosto ou o nome verdadeiro de Jed McKenna. Ele é uma espécie de Baksy da espiritualidade. Vive isolado, na companhia de um border collie e de uns poucos discípulos acidentais. Os textos dele usam o imaginário da cultura pop para falar de espiritualidade e se esforçam para fazer do assunto um tema prático, palpável e – ainda que isso não soe bem – destituído de qualquer magia. A iluminação espiritual, consequência final do zen, aparece aqui como uma coisa que não é nem remota nem inalcançável: “Está mais perto do que a sua pele e mais iminente do que a sua próxima respiração. Caso nos perguntemos por que tão poucos parecem capazes de encontrar o que nunca esteve perdido, podemos nos lembrar da criança que estava procurando na luz uma moeda que deixou cair no escuro porque “aqui a luz é melhor””. Há pelo menos um livro de Jed McKenna traduzido para o português brasileiro: Iluminação Espiritual, um acontecimento incrível.

Meninas Superpoderosas, liberdade e segurança

Meninas Superpoderosas, liberdade e segurança

Quando as meninas Superpoderosas abrem mão de seus poderes e permitem a ascenção de um líder autocrático que manterá a paz em Townsville, elas fazem o que fizeram os habitantes dos Estados Unidos no começo do século XXI: abrem mão da liberdade em nome da segurança. O Ato Patriota, que permitiu a espionagem das comunicações particulares dos cidadãos, teve reprercussões políticas e sociais imensas. Pode-se dizer que uma cultura de espionagem irrestrita começou a vigorar (ou a se tornar mais visível) a partir daquele ponto. Paralelamente, os aparatos de comunicação digital e as corporações que os matém fornecem incentivos para um abandono gradual da privacidade. Entre tudo que se sabe sobre Mark Elliot Zuckerberg, o celebrando fundador do Facebook, há dois fatos que se destacam: o primeiro é a crença dele de que “a privacidade não é mais a norma” e o segundo é o hábito de tapar a câmera do notebook com fita isolante. Estão aqui todos os elementos para perceber que a inocência por trás máxima de que “quem não deve não teme”.

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Sem lugar para se esconder

Nesse livro, Glenn Greenwald argumenta sobre como a cultura da invasão da privacidade pode ser perigosa para a saúde política de uma sociedade. Também está aqui o relato de sua convivência ao lado de Edward Snowden, o famoso delator que permitiu ao mundo saber que os Estados Unidos realizavam espionagem em larga escala fora dos limites domésticos e que até países aliados eram alvo.

Rick & Morty & Nietzsche & Niilismo

Rick & Morty & Nietzsche & Niilismo

É justo dizer que o niilismo é uma espécie de antifilosofia. Enquanto a filosofia trata de buscar e plaicar significados ao mundo, o niilismo trata de ignorá-los e negá-los. Também é justo dizer que o niilismo é a filosofia do século XXI. Ou seja: a filosofia do nosso tempo é a antifilosofia. Talvez por isso, tantos entre nós sejam a favor da ideia de excluir por completo a filosofia do meio educacional. A presença do niilismo nas ficções que consumimos é representativa dessa história. Em Rick & Morty, ele aparece mais bem representado do que nunca, em todos os seus efeitos e em toda a sua complexidade. Rick é o niilismo encarnado: ele nos deixa constrangidos, ele nos deixa confusos, ele nos deixa enojados em alguns momentos e fascinados em outros. A busca por significado é a atividade fim da consciência humana. Se somos máquinas, somos máquinas mágicas feitas para encontrar e atribuir significados a tudo o que vemos pela frente. Abraçar o niilismo significa nigar nossa própria função no mundo. Talvez por isso, essa postura antifilosófica seja tão sedutora: é um ato de subversão e isso tem lá seu charme.

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Shows about Nothing: Nihilism in Popular Culture, de Thomas Ribbs

Primeiro, Holywood tentou manter distância do niilismo, depois foi se aproximando dele gradualmente. Parte dessa história está contada nesse livro. A outra parte – e o resultado final da trajetória cultural narrada aqui dentro – é Rick & Morty. Também está aqui uma lista dos estímulos que todo e qualquer artista recebe para retratar o pior da humanidade em sua obra. Entendendo melhor os produtos culturais que você consome, você entenderá você mesmo.

Steven Universe é feminista?

Steven Universe é feminista?

Steven tem um escudo. Connie tem uma espada. Steven é sensível. Connie é determinada. Ao inverter as qualidades e disposições normalmente atribuídas a cada gênero, Steven Universe expande as possibilidade guardadas para cada uma de nossas existências: a parte masculina da audiência se sente liberada para ter qualidades tidas como femininas. A parte feminina da audiência se sente igualmente livre para buscar as virtudes consideradas exlusividade de um universo masculino. É por essa e outras razões que Steven Universe representa uma evolução notável dentro da animação ocidental e no papel reservado para as animações dentro de nossa cultura. A representatividade feminina também é benéfica aos homens, inclusive àqueles que consideram “feminismo” um palavrão. Ter abetura e possibilidade de existir de maneira sensível e empática é libertador. Ter mulheres inseridas dentro das subculturas masculinas também torna essas subculturas mais diversas e interessantes. Steven Universe sabe disso e faz questão de ajudar o mundo a evoluir nesse sentido.

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Olympe de Gouges, de Jean-Louis Bocquet e Catel Muller

Nessa Graphic Novel, conhecemos a história da autora responsável pela “Declaração dos Direitos da Mulher” e a crueldade inerente a qualquer revolução. Olympe redigiu sua grande obra ainda no século XVIII, quando direitos civis eram uma coisa quase obscena. Morreu na guilhotina.

Beyond Good and Evil, Play Station 2

Nesse jogo, somos apresentados a Jade, uma protagonista feminina como nenhuma outra em sua mídia. Se cedermos espaço para os pedidos de uma representatividade feminina mais justa e decente na cultura, o pior que pode acontecer é termos mais jogos como esse – e esse jogo é maravilhoso! Beyond Good and Evil equilibra narrativa e exploração em um universo ficcional que soma as inspirações das utopias visuais de Hayao Miyazaki e das distopias reais de George Bush pós 11 de setembro.

Thundercats e a vida após a morte

Thundercats e a vida após a morte

O tema mais pesado de todos também é inevitável. No remake de Thundercats, a audiência é induzida a pensar sobre a morte através dos Petalars, criaturas que vivem e morrem em apenas um dia. Embora ainda mais efêmeros, eles atravessam suas vidas curtas de maneira semelhante à dos humanos. Emrick é uma dessas criaturas. Toda sua vida de 24 horas foi dedicada a um único objetivo: voltar para o lar de seus ancestrais. Emrick morre antes de realizar seu grande desejo e faz tanto os Thundercats quanto a audiência se perguntarem como a vida deve ser vivida. A conclusão dos Thundercats é a de que eles devem assumir os próprios riscos e viver de maneira mais intensa e plena, já que a morte é inevitável. O peso do tema e o medo provocado por ele tornam quase obrigatória uma abordagem religiosa. O episódio tenta fugir dessa quase obrigação recorrendo a Mark Twain, autor esperto para quem â morte não deve ser um incômodo porque estivemos mortos por bilhões e bilhões de anos antes de nascer e nenhum de nós tem qualquer lembrança de ter sofrido durante esse largo período. A abordagem de Twain traz conforto em relação a morte de maneira quase racional, algo que um dos maiores clássicos do cinema nos diz que jamais poderia ser feito…

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O Sétimo Selo

Está nesse filme clássico de Ingmar Bergman a famosa cena em que um homem, depois de voltar de sua cruzada, disputa uma partida de xadrez com a morte. O xadrez está ali como uma alegoria da racionalidade. Jogar xadrez com a morte não é apenas de uma tentativa de vencê-la, é também um esforço para compreendê-la a partir da mente racional porque a vitória no jogo não pode vir sem racionalidade. No fim, só escapa da morte uma família de artistas; gente que, pelas características do ofício, vive mais de criatividade e intuição que de racionalidade.