BoJack Horseman e a família disfuncional

BoJack Horseman e a família disfuncional

Família é um tema central nessa animação. Os episódios da série produzidos depois das constatações desse vídeo reforçaram a interpretação. Exemplo: BoJack, depois de um momento de crise, visita a casa da infância de sua mãe. Num primeiro momento, ele tenta cuidar da propriedade, se engaja em tarefas de reforma e manutenção. Eventualmente, ele acaba destruindo o lugar. É uma representação simbólica de processos muito conhecidos por qualquer um que tenha vivido uma infância de abusos. Primeiro, a vítima tenta negar o caráter perverso da infância proporcionada a ela; tenta manter a imagem da família – isso é BoJack tentando manter a casa de pé. Eventualmente, após as crises mais significativas da vida adulta, a vítima aceita esse passado, torna-se consciente dos seus efeitos no presente, e passa a ser capaz de contornar as limitações impostas por um passado triste – isso é BoJack derrubando a casa.

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Wes Anderson

A relação entre a família disfuncional e a negação da disfunção também está presente nos filmes de Wes Anderson. Os Excêntricos Tenenbaums é o exemplo mais flagrante, mas não é o único. Viagem a Darjeeling também toca no assunto. Moonrise Kingdom faz o mesmo e entra nessa lista, mas com muita sutileza: nesse filme, crianças que se comportam melhor que adultos fazem o possível para ficar longe deles.

O Castelo de Vidro

A jornalista Jeanette Wall viu o mundo do topo: como colunista social, frequentava os lugares mais caros de Nova York e andava na companhia das pessoas mais ricas do mundo. Enquanto isso, a mãe dela morava nas ruas e revirava latas de lixo. Na autobiografia, O Castelo de Vidro, ela explora o passado cruel de sua família que gerou tais circunstâncias.

Hora de Aventura – Matéria escura e outras dimensões

Hora de Aventura – Matéria escura e outras dimensões

Hora de Aventura aborda questões cinteíficas de vanguarda e, com frequência, as coloca diante de um viés mais espiritualizado que a média. Fazendo isso, o desenho explora o conceito de multiverso, a hipótese da existência de outras dimensões e até a natureza da consciência e a relação possível entre ela e o que sabemos sobre a física operante nas menores escalas. Hora da Aventura é uma obra de fantasia científica. Estão colocadas aqui representações de alguns conceitos de vanguarda rabalhados dentro da ciência e muita, muita imaginação. Steven Universe, que divide com hora de Aventura o protagonismo da nova geração de animações do Cartoon Network pode ser mais hábil ao lidar com questões sociais, mas não consegue atingir o nível de Hora de Aventura no desafio de embalar com imaginação alguns dos questionamentos mais recentes da física e da astronomia. Um exemplo de como a junção entre ciência e espiritualidade ocorre está na maneira como esse multiverso ficcional se constrói. A hipótese do multiverso é um objeto da ciência e é válida em Hora de Aventura. A hipótese do Karma é um objeto da espiritualidade e, no desenho, ela se desenvolve dentro desse objeto científico chamado multiverso. Finn tem como karma a perda de um braço. Esse karma atua em cada existência dele, em cada universo conhecido. Já abertura para tratar de matéria escura é dada no momento em que o mesmo personagem passa a explorar a existência de outras dimensões com a ajuda de um assoprador de bolhas.

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A Realidade Oculta, Brian Greene 

Brian Greene explica conceitos normalmente inacessíveis da ciência através de exemplos da cultura pop. Nesse livro, por exemplo, Eric Cartmann, de South Park, nos ajuda a entender algumas das forças fundamentais da natureza. Se você gosta da junção entre ciência e cultura pop, há boas chances de que você vá se entender com o Brian Greene.

One Piece e o complexo de vira-latas

One Piece e o complexo de vira-latas

Eiichiro Oda, ao ser questionado sobre as possíveis nacionalidades que seus personagens teriam no mundo real, afirmou que Luffy seria brasileiro. Luffy tem suas qualidades; virtudes típicas de um protagonista de uma obra do gênero de One Piece: ele é corajoso, impulsivo e solidário. Saber que o Brasil, aos olhos de um japonês, pode estar associado a essas qualidade deveria ser um orgulho para nós. Apesar disso, boa parte do fandom local de One Piece recebeu a declaração com desconfiança. Para alguns, a braziliadade estaria no chapéu de palha, para outros nos momentos de baixa racionalidade exibidos pelo personagem. A reação dos fãs brasileiros é mais uma repercussão daquilo que Nelson Rodrigues chamou de “Complexo de vira-latas”. A expressão foi introduzida numa crônica esportiva; um texto bastante curto. Apesar dessa apresentação quase acidental, a expressão pegou e é utilizada até hoje.

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À sombra das chuteiras imortais

À sombra das chuteiras imortais Essa é a primeira coletânea das crônicas esportivas de Nelson Rodrigues. Estão aqui setenta textos que Nelson publicados entre os anos de 1955 e 1970. Eles cobrem um período rico para o futebol e para o desenvolvimento da identidade nacional. É possível e até provável que um leitor mais atento encontre aqui, expressões tão ricas e tão cheias de poder de síntese quanto “complexo de vira-latas”. oÀ sombra das chuteiras imortais se concentra mais nas narrativas associadas ao futebol que no esporte propriamente dito. A coletânea foi organizada por Ruy Castro.

Undertale e a não violência

Undertale e a não violência

Quem quiser entender um determinado conceito em toda sua complexidade, precisará recorrer à etimologia, que é o campo do conhecimento que trata da origem das palavras. Quando Friedrich Nietzsche fez isso com as palavras “bem” e “mal”, ele descobriu coisas interessantíssimas sobre toda a civilização ocidental. Não violência, no sânscrito antigo era “ahimsā”. Ahimsã não fala só de não agredir. Ahimsã fala de conquista de uma repulsa natural contra o ato de agredir. Literalmente, Ahimsã é “falta do desejo de agressão”. No significado original, a filosofia da não violência não se resume a uma série de comportamentos que reduzam ou evitem plenamente os danos que causamos aos outros. Mais do que isso: no significado original, a não violência abrange uma transformação interna que nos faz caridosos e empáticos. Undertale tem uma mecânica de jogo capaz de fazer a mesma coisa: despertar caridade e empatia. É uma lição muito prática. Dando os incentivos certos ao jogador, Undertale reverte o ímpeto de matar para ganhar que desenvolvemos durante décadas nesta mídia.

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Budrus, de Julia Bacha

Nesse documentário, vemos como reage uma comunidade palestina quando Israel decide construir uma muralha sobre seu território. A muralha divide a comunidade ao meio e faz militantes históricos da causa palestina buscarem novas estratégias no campo na não violência. Essa decisão, absolutamente inesperada dentro daquele contexto, tem consequências amplas e imprevisíveis.

Fullmetal Alchemist Brotherhood e o zen

Fullmetal Alchemist Brotherhood e o zen

Ichi wa zen, zen wa Ichi é um episódio especial dentro da série. O nome é uma expressão razoavelmente conhecida no Japão: um é o todo, todo é um. E, durante o episódio, há outros zens além do que aparece no título. Essa combinação entre vários zens é o estímulo para uma breve análise etimológica do termo. Ententendendo a palavra e seus signficados, entendemos o conceito por trás da filosofia representada por ela. Assim, nos aproximamos de um interpretação menos mística e palpável. Há alguns autores por aí que se dedicam ao trabalho de transformar todos os aspectos ligados à espiritualidade em temas tangíveis, passíveis de discussão. Isso é positivo porque, se não for passível de discussão, uma investigação espiritualizada da realidade dependerá sempre da confiança submissa em um mestre. Um sujeito lembrado pro fazer isso é…

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Iluminação Espiritual, um acontecimento incrível

Ninguém conhece o rosto ou o nome verdadeiro de Jed McKenna. Ele é uma espécie de Baksy da espiritualidade. Vive isolado, na companhia de um border collie e de uns poucos discípulos acidentais. Os textos dele usam o imaginário da cultura pop para falar de espiritualidade e se esforçam para fazer do assunto um tema prático, palpável e – ainda que isso não soe bem – destituído de qualquer magia. A iluminação espiritual, consequência final do zen, aparece aqui como uma coisa que não é nem remota nem inalcançável: “Está mais perto do que a sua pele e mais iminente do que a sua próxima respiração. Caso nos perguntemos por que tão poucos parecem capazes de encontrar o que nunca esteve perdido, podemos nos lembrar da criança que estava procurando na luz uma moeda que deixou cair no escuro porque “aqui a luz é melhor””. Há pelo menos um livro de Jed McKenna traduzido para o português brasileiro: Iluminação Espiritual, um acontecimento incrível.

Meninas Superpoderosas, liberdade e segurança

Meninas Superpoderosas, liberdade e segurança

Quando as meninas Superpoderosas abrem mão de seus poderes e permitem a ascenção de um líder autocrático que manterá a paz em Townsville, elas fazem o que fizeram os habitantes dos Estados Unidos no começo do século XXI: abrem mão da liberdade em nome da segurança. O Ato Patriota, que permitiu a espionagem das comunicações particulares dos cidadãos, teve reprercussões políticas e sociais imensas. Pode-se dizer que uma cultura de espionagem irrestrita começou a vigorar (ou a se tornar mais visível) a partir daquele ponto. Paralelamente, os aparatos de comunicação digital e as corporações que os matém fornecem incentivos para um abandono gradual da privacidade. Entre tudo que se sabe sobre Mark Elliot Zuckerberg, o celebrando fundador do Facebook, há dois fatos que se destacam: o primeiro é a crença dele de que “a privacidade não é mais a norma” e o segundo é o hábito de tapar a câmera do notebook com fita isolante. Estão aqui todos os elementos para perceber que a inocência por trás máxima de que “quem não deve não teme”.

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Sem lugar para se esconder

Nesse livro, Glenn Greenwald argumenta sobre como a cultura da invasão da privacidade pode ser perigosa para a saúde política de uma sociedade. Também está aqui o relato de sua convivência ao lado de Edward Snowden, o famoso delator que permitiu ao mundo saber que os Estados Unidos realizavam espionagem em larga escala fora dos limites domésticos e que até países aliados eram alvo.