Rick & Morty & Nietzsche & Niilismo

Rick & Morty & Nietzsche & Niilismo

É justo dizer que o niilismo é uma espécie de antifilosofia. Enquanto a filosofia trata de buscar e plaicar significados ao mundo, o niilismo trata de ignorá-los e negá-los. Também é justo dizer que o niilismo é a filosofia do século XXI. Ou seja: a filosofia do nosso tempo é a antifilosofia. Talvez por isso, tantos entre nós sejam a favor da ideia de excluir por completo a filosofia do meio educacional. A presença do niilismo nas ficções que consumimos é representativa dessa história. Em Rick & Morty, ele aparece mais bem representado do que nunca, em todos os seus efeitos e em toda a sua complexidade. Rick é o niilismo encarnado: ele nos deixa constrangidos, ele nos deixa confusos, ele nos deixa enojados em alguns momentos e fascinados em outros. A busca por significado é a atividade fim da consciência humana. Se somos máquinas, somos máquinas mágicas feitas para encontrar e atribuir significados a tudo o que vemos pela frente. Abraçar o niilismo significa nigar nossa própria função no mundo. Talvez por isso, essa postura antifilosófica seja tão sedutora: é um ato de subversão e isso tem lá seu charme.

METEORO RECOMENDA

Shows about Nothing: Nihilism in Popular Culture, de Thomas Ribbs

Primeiro, Holywood tentou manter distância do niilismo, depois foi se aproximando dele gradualmente. Parte dessa história está contada nesse livro. A outra parte – e o resultado final da trajetória cultural narrada aqui dentro – é Rick & Morty. Também está aqui uma lista dos estímulos que todo e qualquer artista recebe para retratar o pior da humanidade em sua obra. Entendendo melhor os produtos culturais que você consome, você entenderá você mesmo.

Steven Universe é feminista?

Steven Universe é feminista?

Steven tem um escudo. Connie tem uma espada. Steven é sensível. Connie é determinada. Ao inverter as qualidades e disposições normalmente atribuídas a cada gênero, Steven Universe expande as possibilidade guardadas para cada uma de nossas existências: a parte masculina da audiência se sente liberada para ter qualidades tidas como femininas. A parte feminina da audiência se sente igualmente livre para buscar as virtudes consideradas exlusividade de um universo masculino. É por essa e outras razões que Steven Universe representa uma evolução notável dentro da animação ocidental e no papel reservado para as animações dentro de nossa cultura. A representatividade feminina também é benéfica aos homens, inclusive àqueles que consideram “feminismo” um palavrão. Ter abetura e possibilidade de existir de maneira sensível e empática é libertador. Ter mulheres inseridas dentro das subculturas masculinas também torna essas subculturas mais diversas e interessantes. Steven Universe sabe disso e faz questão de ajudar o mundo a evoluir nesse sentido.

METEORO RECOMENDA

Olympe de Gouges, de Jean-Louis Bocquet e Catel Muller

Nessa Graphic Novel, conhecemos a história da autora responsável pela “Declaração dos Direitos da Mulher” e a crueldade inerente a qualquer revolução. Olympe redigiu sua grande obra ainda no século XVIII, quando direitos civis eram uma coisa quase obscena. Morreu na guilhotina.

Beyond Good and Evil, Play Station 2

Nesse jogo, somos apresentados a Jade, uma protagonista feminina como nenhuma outra em sua mídia. Se cedermos espaço para os pedidos de uma representatividade feminina mais justa e decente na cultura, o pior que pode acontecer é termos mais jogos como esse – e esse jogo é maravilhoso! Beyond Good and Evil equilibra narrativa e exploração em um universo ficcional que soma as inspirações das utopias visuais de Hayao Miyazaki e das distopias reais de George Bush pós 11 de setembro.

Thundercats e a vida após a morte

Thundercats e a vida após a morte

O tema mais pesado de todos também é inevitável. No remake de Thundercats, a audiência é induzida a pensar sobre a morte através dos Petalars, criaturas que vivem e morrem em apenas um dia. Embora ainda mais efêmeros, eles atravessam suas vidas curtas de maneira semelhante à dos humanos. Emrick é uma dessas criaturas. Toda sua vida de 24 horas foi dedicada a um único objetivo: voltar para o lar de seus ancestrais. Emrick morre antes de realizar seu grande desejo e faz tanto os Thundercats quanto a audiência se perguntarem como a vida deve ser vivida. A conclusão dos Thundercats é a de que eles devem assumir os próprios riscos e viver de maneira mais intensa e plena, já que a morte é inevitável. O peso do tema e o medo provocado por ele tornam quase obrigatória uma abordagem religiosa. O episódio tenta fugir dessa quase obrigação recorrendo a Mark Twain, autor esperto para quem â morte não deve ser um incômodo porque estivemos mortos por bilhões e bilhões de anos antes de nascer e nenhum de nós tem qualquer lembrança de ter sofrido durante esse largo período. A abordagem de Twain traz conforto em relação a morte de maneira quase racional, algo que um dos maiores clássicos do cinema nos diz que jamais poderia ser feito…

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O Sétimo Selo

Está nesse filme clássico de Ingmar Bergman a famosa cena em que um homem, depois de voltar de sua cruzada, disputa uma partida de xadrez com a morte. O xadrez está ali como uma alegoria da racionalidade. Jogar xadrez com a morte não é apenas de uma tentativa de vencê-la, é também um esforço para compreendê-la a partir da mente racional porque a vitória no jogo não pode vir sem racionalidade. No fim, só escapa da morte uma família de artistas; gente que, pelas características do ofício, vive mais de criatividade e intuição que de racionalidade.

Oswaldo e a donzela em perigo

Oswaldo e a donzela em perigo

Oswaldo é um pinguim num país tropical e é mais um ícone da nova geração de animações brasileiras. O primeiro episódio da série fala sobre a história dos videogames e critica, de maenira sutil, um recurso de roteiro conhecido como “donzela em perigo”. Como a crítica é feita entre uma e outra referência aos jogos, é fácil presumir que ela está direcionada à representação da mulher dentro dessa mídia. Oswaldo se posiciona diante dessa discussão apresentando uma personagem feminina capaz não apenas de se salvar sozinha, mas também de zerar o jogo que os meninos não conseguem terminar ao longo de todo o episódio. É um posicionamento óbvio e bastante eloquente diante da questão. O roteiro foi escrito por Pedro Eboli, criador da série.

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Rise of the Videogame Zinnersters

Pedro Eboli é homem e, ainda assim, priorizou no roteiro dele uma causa que é feminina. Além de generosa, a escolha é inteligente: se tivermos, dentro dos games, menos mulheres sexualizadas e objetificadas, teremos mais mulheres jogando conosco. Ao humilde redator desse texto, esse parece um ótimo negócio. Aos jogadores que cresceram com o conceito de que o videogame é tão “de menino” quanto o “carrinho”, talvez reste alguma ilusão de que, algum dia, a exclusividade masculina sobre a mídia foi real. Talvez, e só talvez, ele tenha lido Rise of the Videogame Zinnersters, de Anna Antrthropy. O livro é um manifesto sobre representatividade (não apenas feminina) nos jogos.

Chaves e o cinismo

Chaves e o cinismo

As relações entre Chaves e Diógenes são difíeis de negar: ambos moravam num barril, ambos faziam da pobreza seu tema principal, ambos faziam da superação dessa condição sua razão de viver, ambos influenciaram culturas inteiras, ambos apanharam de graça. Apesar de todas essas similaridades, a semelhança entre o personagem ficional e o excentrico filósofo de Sínope, na antiguidade grega, permanecem um mistério até hoje. Durante toda sua carreira, o criador de Chaves nunca teria encontrado um jornalista que soubesse algo a respeito do cinismo para fazer tal pergunta a ele. Esse fato permanece até os dias de hoje como um depoimento sobre a incompetência do jornalismo e sobre a impopularidade de cinismo. A primeira, todo mundo conhece muito bem. A segunda, pode parecer novidade, então explicamos suas razões de ser: o cinismo é a filosofia da felicidade do pobre, da nobreza do simples e da alegria da precariedade. Chaves fala disso. Ele é pobre, ele sofre as consequências disso, mas ele sente e propaga alegria mesmo assim. A filosofia de Diógenes fez a mesma coisa no seu tempo, mas não pode ser levada a sério nos dias de hoje. Numa cultura que prioriza o consumo como razão existencial, o cinismo configura uma séria ameaça aos lucros. Por isso, precisa ser impopular. Fossem o Cinismo e todas suas futuras derivações mais cultuadas, esses tempos seriam bem diferentes. São Francisco de Assis, por exemplo, é ou filho ou neto do cinismo, mas já esteve mais em alta.

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Cynicism, from Diogenes to Dilbert

Esse livro tem o espírito do Meteoro, mas atua de maneira inversa. Nos episódios de Meteoro, pegamos uma referência da cultura pop de nossa época e encontramos um precedente antigo e clássico para ela. Normalmente, essa referência testada e aprovada pela passagem do tempo nos é apresentado pela Mulher masi Sábia. Sabendo disso, releia o título desse livro: Cynicism, from Diogenes to Dilbert. Começa com o filósofo clássico, termina com o quadrinho da segunda metade do século XX. É como um episódio de Meteoro que começa com a Mulher mais Sábia e termina com aquele outro personagem qualquer. Toda a trajetória do cinismo, com suas influências na cultura ao longo dos séculos, seus desdobramentos, suas apropriações e até suas derivações estão listadas nesse livro.

Dragon Ball e o Chi

Dragon Ball e o Chi

Dragon Ball viveu e viverá por tempo suficiente para tratar dos mais diversos temas, mas na origem dessa série sempre estarão duas coisas: a referência clara à Jornada ao Oeste e a representação dos conflitos entre a sabedoria ancestral que existe na natureza e o conhecimento moderno obtido por uma humanidade desenvolvida. As referências à Jornada ao Oeste são flagrantes. Esse romance chinês antigo fala da viagem que o monge monge Tang Xuanzang fez na tentativa de obter antigas escrituras budistas. A viagem do monge é um fato histórico com muitas repercussões: os escritos dele guiaram as escavações dos ingleses na Índia, quase 2.000 anos depois da famosa viagem ter acontecido. O romance, porém, mistura o passado histórico com o folclore chinês, inlcluindo a figura de Sun Wukong, o Rei Macado. Sun Wukong, como Goku, possui uma série de transformações e um bastão (ou cajado) capaz crescer indefinidamente até alcançar o leito dos oceanos mais profundos. Além disso, ele também pode voar entre as nuvens. A dualidade entre conhecimento ancestral e tecnologias modernas também é bastante presente no início da série. Goku vive isolado da civilização e conta apenas com a natureza para sustentá-lo. Para alguém como ele, a descoberta da tecnologia também é a descoberta do conflito. Ao longo dos próximos episódios, há um equilíbrio gradual entre as duas coisas.

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O título do produto

A virada dos anos 80 para os anos 90 foi um período muito produtivo para a Disney. São desse período algumas das animações mais memoráveis que a Disney já fez: A Pequena Sereia, A Bela e a Fera, Alladin e, claro, O Rei Leão.